sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Dra. Keila Oliveira escreve artigo para o Jornal Gazeta do Oeste


Adolescência, Mídia e Sexualidade Fragilizada
Keila Oliveira - Psicóloga

Está semanalmente nos mais diversos meios de comunicação, seja ele escrito ou falado, na internet ou na televisão. Os casos de crimes sexuais cometidos contra crianças e adolescentes estão tomando diversas dimensões e em proporções cada vez mais graves e preocupantes. Seja através de redes de pedofilia na internet, ou de casos famosos como os vistos recentemente, como o da menina estuprada em Londrina-PR por causa das pulseiras do sexo, ou do caso em Florianópolis-SC, quando uma jovem de 13 anos foi drogada e depois estuprada por adolescentes de classe média alta - um, filho de um dos donos de uma emissora de televisão local, outro, filho de um delegado-. Dias depois, o adolescente ainda expõe mais ainda a jovem no Orkut com a naturalidade de quem toma sorvete na esquina de casa.
Proibiu-se a venda das pulseiras e inclusive o uso delas nas escolas. A preocupação com a propagação do uso dos acessórios toma dimensões de pandemia. Combate-se a causa, mas não a origem do problema! Será que o fato de proibir a venda e o uso de acessórios muda algo na educação e na mentalidade dos adolescentes de hoje em relação ä própria sexualidade?
Se a proibição de algo danoso resolvesse o problema não teríamos como maior vilão social na atualidade o uso e o tráfico desgovernado do craque, e isso é apenas um dos exemplos que podemos utilizar para que a situação fique clara.
Está notório: nossos adolescentes estão fragilizados sexualmente e se submetendo a situações de vulnerabilidade com o próprio corpo de uma forma devastadora e parece que a única alternativa que nossos governantes encontraram foi a proibição. Por que eles não proíbem a erotização e a sexualização exacerbada que a mídia promove diariamente nas telenovelas e nas revistas?
O papel da mídia é muito influenciador e promove o uso do corpo o tempo inteiro como objeto de consumo e de moda, promovendo que garota virgem aos 18 é careta e cafona. Casar virgem além de ser coisa rara de se ver é um valor difícil de se manter. Vemos relatos de garotas virgens que dizem para as colegas que não são mais virgens porque sentem vergonha! Perder a virgindade deixou de ser uma escolha pessoal e consciente para ser objeto de pressão dos amigos, do namorado e da mídia. Esses discursos estão se tornando cada vez mais comuns -"transar como prova de amor"-.
É esta over exposição da intimidade e da vida sexual de cada um que é preocupante, principalmente dos adolescentes que ainda não têm uma identidade formada e são repletos de dúvidas e questionamentos, além do fato de sentirem necessidade de serem aceitos em grupo. No caso das pulseiras, os adolescentes para serem aceitos no grupo precisam usar as pulseiras também, é como se dissessem "eu posso", "eu tenho coragem" ou até "eu não dou tanto valor a isso, eu não me importo!". Nossos adolescentes necessitam de mais orientação e mais educação em relação ä própria sexualidade. Educação sexual e orientação sexual promovida pelos pais, pelos professores e pelas escolas, não implica falar apenas de sexo, de gravidez, DST e AIDS como está sendo feito atualmente. Falar de educação e orientação sexual implica trabalhar questões atuais entre os adolescentes; trabalhar o que a mídia traz de importante e o que a mídia traz de perigoso e principalmente que esses jovens possam elaborar um conceito próprio a respeito disso; é fazer com que os adolescentes possam perceber que gravidez pode e deve ser uma escolha baseada em planejamento familiar e profissional, e isso não se consegue apenas informando quais os métodos contraceptivos devem ser usados, mas implicando esses jovens como responsáveis por seus corpos e suas vidas e criando junto com eles um projeto de vida tendo como perspectivas o futuro e o que eles querem desse futuro.
Trabalhar sexualidade na adolescência implica instruir esses jovens a não precisarem se submeter a situações de vexame e devastação do próprio corpo, porque eles aprendem a dizer "não" ao que lhes fazem mal, aprendem novos valores e novas formas de lidar com a sexualização e erotização provocadas pela mídia.

Fonte: Jornal Gazeta do Oeste

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Odbacontecendo agradece sua visualização. Deixe seu comentário.